Educação da classe trabalhadora:
Marx contra os pedagogos marxistas
Tarso Bonilha Mazzotti
Posição baseada no trabalho como princípio educativo, o qual deve orientar a educação escolar de todos, realizando-se a educação única politécnica. Essa educação única politécnica conduziria à realização das bases culturais necessárias à hegemonia da classe trabalhadora, com vistas ao socialismo. Seus propositares julgam que esta é uma posição marxista adequada aos nossos tempos, uma vez que é preciso dotar Marx de uma dimensão que ele deixara de lado: a cultural.
A posição original de Marx sobre a cultura e a educação. A elevância deste possível esclarecimento é primordialmente epistêmica, pois implica rever a posição dos que afirmam que Marx não tratou da cultura e da educação. A apreensão da posição de Marx permita uma revisão dos debates em torno da educação escolar, bem como das condições contemporâneas postas pelas mudanças na base técnica da produção, uma vez que, para ele, a condição vital material e espiritual é a existência de tempo livre para o desenvolvimento humano.
Educação escolar entre as bandeiras de luta dos trabalhadores este tema aparece, nas posições de Marx, vinculado as suas proposições sobre a “regulamentação do trabalho das mulheres, crianças e jovens de ambos os sexos”. Essa regulamentação constituía, no século passado, um dos pontos críticos para a sobrevivência física da classe dos trabalhadores assalariados que desenvolviam jornadas de 12 h a 16 h. Entre esses, encontravam-se crianças muitas das quais com três anos de idade e jovens de ambos os sexos, bem como mulheres adultas. Eram trabalhadores “desqualificados”, ou seja, não eram profissionais.
Marx luta essencialmente pela constituição de uma identidade da classe trabalhadora, que jamais seria a mesma da classe burguesa dominante dentro do sistema capitalista. O capitalismo traz em si mesmo a divisão da sociedade em classes sociais. Para que se estruture, necessariamente alguns terão que dar os meios de produção e irão assalariar a outros que só possuem sua força de trabalho. Nesta relação é que se produzirá o lucro, a essência do capitalismo, é necessário que “todos” não possam lucrar, e sirvam de mão-de-obra quase escrava na perspetiva de sustento dos primeiros. Um sistema em que a repartição do capital fosse igualitária. Marx desejava a consciência da identidade trabalhadora para que a transformação do sistema pudesse ocorrer. Para ele não era possível que uma sociedade em que uns poder dominante dominaria a classe trabalhadora.
A classe trabalhadora deveria atender educacionalmente aos seus próprios filhos, e que a burguesia atendesse aos seus, o que já fazia muito bem. Por que, então, se preocupar com eles?
A educação é parte incluindo as relações de determinação e influência de que ela recebe da estrutura econômica, e o específico das discussões de temas e problemas educacionais. A transformação educativa deveria ocorrer paralelamente à revolução social. Um lado, seria necessário mudar as condições sociais que mude o sistema de ensino, este mudaria e transformaria as condições sociais.
Marx considera que as conquistas materiais são um momento do processo de tomada de consciência dos interesses de classe por parte da própria classe e, nessa luta, o proletariado vai se constituindo em “classe para si”, forma-se como classe efetivamente revolucionária. Por exemplo, ao lutar pela regulamentação do trabalho infantil e juvenil associada à educação escolar intelectual, física e tecnológica a classe proletária estaria dando um passo no sentido de colocar-se como dirigente da sociedade atual e futura. Esta pedagogia é a pedagogia da luta de classes que educa a classe trabalhadora e o Estado, como vimos mais acima.
A educação para além do capital por István Mészáros poucos negariam hoje que a educação e os processos de reprodução mais amplos estão intimamente ligados. Consequêntemente, uma reformulação significativa da educação é inconcebível sem a correspondente transformação do quadro social no qual as práticas educacionais da sociedade devem realizar as suas vitais e historicamente importantes funções de mudança. Mas para além do acordo sobre este simples fato os caminhos dividem-se severamente. Pois, caso um determinado modo de reprodução da sociedade seja ele próprio tido como garantido, como o necessário quadro de intercâmbio social, nesse caso apenas são admitidos alguns ajustamentos menores em todos os domínios em nome da reforma, incluindo o da educação. As mudanças sob tais limitações conjecturais e apriorísticas são admissíveis apenas com o único e legitimo objectivo de corrigir algum detalhe defeituoso da ordem estabelecida, de forma a manter-se as determinações estruturais fundamentais da sociedade como um todo intactas, em conformidade com as exigências inalteráveis de um sistema reprodutivo na sua totalidade lógico. É-se autorizado a ajustar as formas através das quais uma multiplicidade de interesses particulares conflitantes se devem conformar com a regra geral pré-estabelecida da reprodução societária, mas nunca se pode alterar a própria regra geral. desta forma para o bem e para o mal, o êxito depende de tornar este processo de aprendizagem, no sentido amplo do "Paracelsiano", um processo consciente, de forma a maximizar o melhor e a minimizar o pior. Apenas a mais vasta concepção de educação nos pode ajudar a insistir no objectivo de uma mudança verdadeiramente radical proporcionando alavancas que rompam a lógica mistificadora do capital. Esta maneira de abordar os assuntos é, de facto, tanto a esperança como a garantia do êxito possível. Por contraste, cair na tentação dos arranjos institucionais formais "a pouco e pouco", como afirma a sabedoria reformista desde tempos imemoráveis significa permanecer aprisionado dentro do círculo vicioso institucionalmente articulado e protegido desta lógica auto-interessada do capital. Esta última forma de encarar tanto os problemas em si mesmos como as suas soluções "realistas" é cuidadosamente cultivada e propagandeada nas nossas sociedades, enquanto que a alternativa genuína e de alcance amplo e prático é desqualificada aprioristicamente e afastada bombasticamente como sendo "gestos políticos". Esta espécie de aproximação é incuravelmente elitista mesmo quando se pretende democrática. Porque limita tanto a educação como a atividade intelectual da maneira mais estreita possível, como a única forma certa e adequada de preservar os "padrões civilizados" daqueles destinados a "educar" e governar, contra a "anarquia e a subversão". Simultaneamente exclui a esmagadora maioria da humanidade do âmbito da ação como sujeitos, e condena-os para sempre a serem apenas influenciados como objetos (e manipulados no mesmo sentido), em nome da presumida superioridade da elite: "meritocrática", "tecnocrática", "empresarial", ou o que quer que seja.
Educação para além do capital contempla uma ordem social qualitativamente diferente. Agora não só é possível embarcar na estrada que nos leva até essa ordem como também é necessário e urgente. Pois as incorrigíveis determinações destrutivas da ordem existente tornam imperativo contrapor aos antagonismos estruturais irreconciliáveis do sistema capitalista uma alternativa positiva sustentável para a regulação da reprodução metabólica social se quisermos assegurar as condições elementares da sobrevivência humana. O papel da educação, orientado pela única perspectiva positivamente viável de ir para além do capital, é absolutamente crucial a este propósito.
Referência:
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. São Paulo: Hucitec, 1986.
MARX, Karl. O 18 Brumário de Luís Bonaparte. In: MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. Textos. Vol. III. São Paulo: Edições Sociais, 1977.
2 comentários:
Oi Ceres, trazes apontamentos muito relevantes sobre as obras dos autores. A partir do que destacas, quais idéias nos ajudam a pensar na educação de hoje? Como poderíamos pensar a educação atual a partir da perspectiva de Marx? Abração, Sibicca
Bons dias, Simone,
creio que alterou significativamente o meu trabalho, sem dizer isso aos seus leitores. Você tem o direito infinito de apresentar suas reflexões, mas é preciso dizer as diferenças entre o que você diz e o que os outros afirmaram. Utilizou o título de um artigo que escrevi, bem como uma parte do mesmo, passou em seguida para outra posição sem mostrar a incompatibilidade entre ambas.
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